sexta-feira, julho 21, 2006,3:23 AM
Quando o Emo era Hype Pt - 1




Muito antes de garotos com delineadores nos olhos chorarem sobre as dores da vida com a sensibilidade de um Felipe Dylon, o termo "emo" teve um significado bem diferente. Nos anos 80, com o punk rock em frangalhos, o hardcore foi uma opção do movimento continuar tendo uma postura controversa, mas de uma forma bem mais violenta. "Se o movimento punk acabou se tornando uma autocaricatura, porque não contra-atacá-lo? ", esse foi o principal mote para Jello Biafra formar os Dead Kennedys.

Se por um lado, grupos como Black Flag e Misfits abraçaram esta causa, outros preferiram contra-atacar o punk de uma forma mais artística, dando mais espaço para o experimentalismo, temas do cotidiano e da vida pessoal, extrapolando os 3 acordes da cartilha punk rock.

E foi seguindo esta cartilha que Bob Mould formou o Hüsker Dü, que com seu disco conceitual, Zen Arcade partiu o underground americano no meio e abriu espaço para muitas bandas, como Embrace e Fugazi, se arriscarem neste terreno que logo seria chamado de post-hardcore.

A desconstrução promovida por estes artistas foi tanta, que dividiu os ativistas da cena hc na época, tanto pelo comportamento mais pacífico do público desta nova tendência em shows quanto à sonoridade, que só era hardcore no nome mas cuja sonoridade era bastante próxima as guitarbands americanas.

Este estilo passou anos sobrevivendo no underground como um subterfúgio para artistas escreverem músicas confessionais, nem sempre sobre dor de cotovelo - e a única forma autêntica e confortável. A popularidade não era vista com bons olhos devido a grande exposição de suas crônicas aos ouvidos alheios.

Mas esta visão mudou com a virada da década de 90, com artistas como Nirvana e Pearl Jam mudando a estética da indústria fonografia, músicas confessionais se tornaram a lei e o fantasma da superexposição ficou bem ameno. E, dentro deste cenário, um filhote do movimento grunge de Seattle se tornou a primeira banda de emo a ter um hit na Mtv. Liderado por Jeremy Enig, o Sunny Day Real Estate foi um verdadeiro hype na época, mas logo implodiu graças ao temperamento difícil de seu vocalista. Os remanecentes se juntaram a Dave Gorhl no recém formado Foo Fighters.

Mas a semente foi plantada e logo surgiram milhões de clones do Sunny Day, como o Mineral e o Texas is the Reason, que pavimentaram o caminho do emo no mainstream, e a reação contrária a isso foi a fragmentação em estilos completamente distintos e cuja variação mais famosa foi promovida pela galera do poppy punk que marcou profundos estigmas ao estilo.

Como a postura de músicos hardcore mudou bastante desde a época do Hüsker Dü e Dead Kennedys, experimentos artísticos e postura política violenta ficaram para o segundo plano, dando preferência a crônicas adolescentes inspiradas em grupos como Weezer e Dashboard Confessional. Apoiado por um lado pop descartável, acabou originando uma nova geração de bandas intituladas de emocore, porém, uma outra facção de bandas deu continuidade ao seu princípio original, como os texanos do At The Drive in.

Atualmente, o emo tem criado muitas controvérsias graças ao grande sucesso de bandas como My Chemical Romance e Dashboard Confessional. Muitos artistas do cenário independente começaram a ser relacionados, às vezes, sem possuir muita semelhança com o estilo, como foi o caso do Bright Eyes e do já citado At The Drive in. Mas isso não passa de capricho dos grandes selos para venderem mais.

Pois hoje, como todos sabem, a fórmula do emocore caiu, perfeitamente, como luva numa época onde a música se tornou mais um apetrecho visual do que artístico. Talvez um dos principais efeitos colaterais da democracia on-line, que colocou um oceano de referências a um público que ainda não aprendeu a lidar com o excesso de informações. E isto acabou abraçando todo o contexto de uma época que vitimou a cultura pop com fãs que lidam com a música como se fosse um fast food, trocando de artista favorito como se fosse uma camiseta da moda ou um absorvente.

 
Escrito por Tiago Trindade
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