quarta-feira, abril 06, 2005,2:10 AM
Violins, a vingança do rock independente.



Numa cabra cega, que é a audição de um álbum sem saber o artista proveniente, a primeira faixa desta bolachinha pode parecer apenas mais uma banda tentando soar como os escoceses do Mogwai. Mas logo esta mesma ganha força e se desenvolve numa explosão de elementos sinfônicos, com um vocalista cantando versos bem encaixados em português. Com a surpresa de ser um artista nacional, acaba-se descobrindo que tal grupo é proveniente do meio independente e, mais precisamente, de uma cidade como Goiânia, antes famosa pelas suas duplas sertanejas e agro-boys, mas que hoje ostenta uma cena alternativa muito forte.

O nome da banda é Violins, cujo primeiro álbum Aurora Prisma, vem sendo umas das novas promessas e resultado de uma sólida cena local com o suporte do selo Monstro Discos. Que, com suas bandas e festivais, contrasta, friamente, com a conhecida tradição da cidade de rodeios e fazendeiros. De início, eles recebiam a alcunha de Violins and Old Books, cantavam em inglês e se inspiravam no Radiohead antigo, mas com algumas intervenções de post-rock, assim como outras bandas no Brasil. Mas com grupos como Los Hermanos, Cachorro Grande e Pato Fu fazendo muito sucesso e compondo canções de qualidade superior ao nosso pop rock radiofônico de cada dia, se tornaram uma referência para muitos, fazendo com que Violins acabassem perdendo o medo da "exposição" de cantar letras em português, gerando uma valorização da nossa língua no rock. Tal fato se tornou um dos principais trunfos do grupo goiano, que agora cantam em português um rock vigoroso porém, melódico com arranjos orquestrados e bem elaborados, da mesma escola de nomes como Mogwai e Muse.

Logo de primeira, você acaba estranhando o som dos garotos, pois, em alguns momentos, acabam soando como uma espécie de Guilherme Arantes simulando Radiohead, mas as melodias e as guitarras grudam na cabeça como fita adesiva, assim uma segunda audição mais cuidadosa se torna inevitável, porém prazerosa. Como é o caso de "23 Carnavais" onde se encontram todas as qualidades do grupo, abordando temas como crises existenciais juvenis emolduradas por um colchão de guitarras altas e pianos.

Mas é em "Auto Paparasi" que eles mostram quem realmente são, sendo o melhor cartão de visita do grupo. Esta é uma canção que, logo no início, percebe-se influência de grupos post-rock, porém com melodias assobiáveis, com aqueles típicos paredões de guitarras. Outro grande destaque fica para, "Qual a Criança" onde o grupo mostra sua faceta puramente pop, cujo potencial radiofônico fez com que, ano passado, Kid Vinil a incorporasse na programação da radio Brasil 2000, para depois ganhar diversos
prêmios em publicações especializadas como um dos melhores discos independentes de 2004. Aproveitando toda esta energia canalizada em forma bruta, o grupo promete, para junho deste ano, o aguardado segundo disco, Grandes Infiéis.

Violins mostrou que, com dedicação e criatividade, é possível construir um disco que se nivela facilmente à qualidade de majors. E que, assim como eles, a cena independente esta recheada de novos talentos prontos para pipocar, mostrando que o Brasil pode fazer rock contemporâneo sem cair no ridículo, como muitas bandas de sucesso no pais. É um processo que ainda esta em desenvolvimento, mas que já está gerando ótimos frutos de Belém ao Rio Grande do Sul. Assim cresce a esperança de termos uma cena independente tão bem estabilizada quanto nos EUA e Europa.

 
Escrito por Tiago Trindade
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