segunda-feira, outubro 02, 2006,2:09 AM
Quanto mais purpurina melhor



Depois de um disco cheio de hits vermes de ouvido, que vendeu milhões de cópias e esteve presente na discoteca virtual de qualquer antenado, o que uma banda hype faria pra consolidar seu nome no disco seguinte? Uma reprise do trabalho anterior? Despediria o vocalista? Montaria uma padaria? Não. Nenhuma dessas possibilidades pode ser encaixada ao Killers depois de escutar Sam’s Town.

Para um segundo disco, os caras poderiam contornar o caminho fácil repaginando seu dance rock em um módulo mais moderno e repetir a fórmula de sucesso. Mas não, Brandon Flowers e Cia foram logo para onde seria o caminho natural de um terceiro disco. Ou seja, desencanaram de tocar em boates e inferninhos para abraçar as arenas do mundo inteiro. Muitas das influências do New Order, que batiam ponto no primeiro disco, foram deixadas para o 5º plano a fim de se concentrarem no verdadeiro esqueleto da banda, aquilo que estava em sua natureza ou na sua forma mais bruta, que é o glam rock dos anos 70.

Ao escutar o disco, logo nas primeiras faixas, você ainda percebe uma demência meio The Cure aqui ou um Bunnymen acolá. Mas quando o bicho pega, a banda mergulha numa sinfonia de referências que vão de Queen a David Bowie, passando pelas espeluncas e estradas da América com Bruce Springsteen na garupa. Tudo conduzido com maestria pelos produtores Flood e Alan Moulder, que também comandaram umas das mais grandiosas obras-primas dos anos 90, o disco Mellon Collie & The Infinite Sadness do Smashing Pumpkins – evidente logo no início da faixa Sam’s Town – disco esse, aliás, que já possuía suas referências no Sgt. Peppers dos Beatles.

Se no início o Killers não passava de uma banda meia-boca, com alguns hits e nada mais, aqui eles surpreendem e mostram que estão muito acima de bandas que dividiam o mesmo estilo. Se a moda é ser tosco, tocar músicas com guitarras desafinadas, batida dance e refrão previsível, aqui eles vão de encontro a esta natureza e mostram uma versatilidade pouco vista em seus conterrâneos. Basta escutar “This River is Wild” e notar que o vocalista Brandon Flowers deixou de lado os refrões fáceis para uma performance vocal que desafia o seu próprio talento e força a banda seguir o mesmo ritmo. Para quem esperava uma versão melhorada do primeiro disco, pode se decepcionar a primeira vista, mas curtir depois. Quem não gostava da banda, poderá até se surpreender bastante ao escutar o disco.

Com essa guinada inesperada, o Killers desafia não somente seus fãs a irem muito além do simples bate-estaca que forjou a sua fama, mas também deixa muitos preocupados com o seu direcionamento. Como aconteceu com o vocalista do Pet Shop Boys que, nem tinha escutado o disco, mas já pensava que os rapazes haviam perdido o seu apelo pop devido ao visual mais sério. Grande equivoco, pois o apelo pop ainda está presente, só que em novo contexto, mostrando uma face que remete mais ao rock clássico do que a extravagância de um Duran Duran. Para quem gosta de rock de qualidade sem encanar com rótulos, pode mergulhar nesse disco desestressado que a viagem será das melhores.


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Escrito por Tiago Trindade
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